Uma espécie de ode às mães solteiras

Estive nove dias sozinha com as minhas filhas enquanto o pai delas percorria o caminho de Santiago a pé. Durante os nove dias em que estivemos sozinhas, foram várias as pessoas que nos ofereceram ajuda ou que nos perguntavam quase diariamente se estávamos bem. Se por um lado isto me comove, por outro lado espanta-me a descrença de algumas pessoas de que uma mãe consiga (e queira) cuidar dos seus filhos sozinha durante 9 dias. Recusei amavelmente as ajudas, não por ser arrogante, mas porque francamente não era preciso. Não há nada de sobre-humano nisto. Não é fácil, a quem quero eu enganar, mas sendo eu mãe delas, porque não hei-de eu ser capaz de cuidar delas quando o pai não está? Porque hei-de eu sobrecarregar outras pessoas, suponhamos os avós, para me livrar eu deste fardo que são as minhas filhas – que eu escolhi ter e por quem sou responsável?

Não foi fácil, não quero mesmo enganar ninguém, mas fez-se. À minha maneira, que não é nem pior nem melhor do que outras maneiras de educar, mas que resultou. Alimentei-as, mantive-as limpas, cortei-lhes as unhas, dei-lhes miminhos, fui com elas à natação, ao cinema, fizemos bolachas (esta parte era perfeitamente dispensável, tanto que nem correu assim tão bem…), mudei vários lençóis de chichi a meio da noite, fiz os tpc com a Inês, nunca chegámos atrasadas à escola e ainda fizemos manualidades (ou crafts, para parecer que sou daquelas mães dos blogs) enquanto eu fazia a bainha aos cortinados. É claro que nem tudo correu bem. A bainha dos cortinados ficou torta e a Inês faltou à ginástica porque eu tive reunião na escola. Houve também uma noite em que fui para a cama inquieta por ter sido má mãe. Mas os dias seguintes funcionaram sempre muito bem como uma espécie de reset, de relógio que parou e se volta a dar corda, de energias renovadas. Ainda assim, nestas alturas penso sempre muito nas mães solteiras e pergunto-me se a elas também oferecerão ajuda e perguntarão se está tudo bem? É que comigo foram só nove dias. Com elas, é uma vida inteira.

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2 comentários

  1. viajo a trabalho com alguma regularidade. sempre que o faço há alguém que se oferece para ajudar o pai dos meus filhos a tomar conta deles. como se um pai não o conseguisse fazer sozinho. não entendo. já tentei mas acho que vou continuar sem entender

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