Parabéns, Alice

Quis o acaso que eu, que sempre quis ter rapazes e só rapazes, porque me incomodava a histeria feminina, tivesse logo duas meninas. Bastante histéricas, por sinal, mas quero crer que é da idade. Quando foi da primeira, é menina, pronto, deixa lá, o que interessa é que venha com saúde, e não pensei mais sobre isso. Mas da segunda a aceitação foi mais difícil. Estive, inexplicavelmente, convencida desde a concepção de que era rapaz. E quando, a meio da gravidez, soube que vinha aí outra menina, confesso que cheguei a casa e chorei. Não me lembro se o digo aqui, mas agora já sabem a verdade. Fartei-me de chorar. Catano, como vou ser eu mãe de duas meninas?!?

Três anos volvidos e posso dizer que é a melhor coisa do mundo! Bom, não é. Quer dizer, tem os seus desafios, a maternidade não é um mundo cor-de-rosa, mas não me parece que ter meninas seja melhor ou pior do que ter dois rapazes ou um casalinho. Mas é certo que tem muitas vantagens, como a cumplicidade que se gera entre elas, as brincadeiras facilitadas e partilhadas e a roupa que passa de uma para a outra.

Mas recuemos outra vez no tempo até à gravidez da Alice. Ao contrário da gravidez da irmã, não foi uma gravidez fácil. Estive de repouso forçado, cheia de contracções, ciática e enjoos e, depois da, na altura, decepcionante surpresa do sexo, havia a questão do nome. Eu precisava de estabelecer um vínculo com a criatura do sexo feminino que crescia dentro de mim, convenci-me de que a escolha do nome era essencial para isso e não havia maneira de escolhermos o nome. Bom, do meu lado, escolhido já ele estava, muito antes de querer sequer ter filhos (este filme pode ou não ter contribuído para isso). Quando ele finalmente concordou com o nome, já faltava muito pouco para o parto e temi que a rapariga nascesse e eu não conseguisse sentir aquela multiplicação automática do amor de que tanto se fala.

Não foi imediato, de facto. Ela parecia um macaquinho. Feia e achatada. O parto tinha sido intenso, eu sem conseguir fazer força, e estava exausta quando ma puseram nos braços. Não chorei nem nada que se pareça. Não estava triste nem feliz, estava aliviada por já ter passado, por ela estar bem e ser saudável, com tudo no sítio. Era o que era.

Foi durante a noite. Durante aquela nossa primeira noite de dedos entrelaçados uma na outra que me apaixonei irremediavelmente pela segunda vez (pois que afinal é possível a tal multiplicação divina do amor). E hoje agradeço aos cromossomas tresloucados por me terem dado outra menina, esta menina, a minha doce Alice, e por ontem termos podido festejar os seus três anos com uma felicidade transbordante, a dela, a nossa e a nossa ao vermos a dela. E não interessa nada que, já na cama, me tenha dito que não tinha gostado da festa, que tinha sido “horrorosa”, porque essa vai sendo a sua imagem de marca: quanto mais gosta, mas diz que detesta. Se tivesse dito que tinha gostado é que nos preocupávamos. Assim sabemos que foi um sucesso.

 

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