O corvo Rafael – A Perseguição 

Como já devem ter percebido pelo título, a coisa ficou feia. Uma inocente história de um corvo que dá pelo nome de Rafael e vai comer bolachas à mão do “dono” e que destrói sementeiras tomou proporções drásticas este fim de semana. Quer-me parecer que não vamos lá com meia dúzia de espantalhos acriançados, não…

A fotografia, tirada poucas horas antes do fatídico encontro, não mente: não estamos a falar de um melro! Estou em crer que nem mesmo de um corvo. Isto mais parece um peru, dizia a vizinha Ana, ou até mesmo um urubu! O bicho é gigante, especialmente quando corre para nós e abre as asas. Diz a Infopédia que chega a ter uma envergadura de asas de 120 cm, que é só menos 39 cm da minha altura, portanto fiz bem em correr pela vida!

Mas recuemos no tempo. Depois de um sábado a arrancar ervas daninhas (que a Bumba na Fofinha tão bem descreve), a cavar terra e a pôr terra nova, a plantar e a arranjar estratagemas (que incluem arruda, canela e ocupar os espaços livros com pedras, conchas e vasos) para manter os gatos longe do novo canteiro, fiquei deveras irritada quando vejo o corvo Rafael a rondar. Se de manhã só sobrevoou o sítio, à tarde já estava de patorras no empedrado, cada vez mais próximo da minha relíquia. Quando achei que era altura de mostrar quem manda, aproximei-me dele e chamei “Ó psst, ouve lá, não achas que está na altura de dares de frosques?” Como não fez caso de mim, e continuou a bicar as gerberas, aproximei-me mais e, de mão na anca, insisti: “Rafael, ninguém te quer aqui, baza!” Mas nada. Ou o bicho é mouco ou está a ignorar-me de propósito, pensei. Por via das dúvidas, e porque insisti que tinha de chamar o bicho à razão, fui buscar o regador-aspersor que uso para afastar os gatos sem lhes fazer mal. Aproximei-me do bicho e esguichei. Uma borrifadela. Nenhuma reacção. Duas borrifadelas. Ora bem.

Como é óbvio, eu não estava à espera do que aconteceu a seguir. Ligeiramente incomodado com as borrifadelas, o Rafael virou o bico para mim com desprezo e olhou-me bem nos olhos, e eu olhei bem nos seus olhos pretos e o que vi foi uma espécie de raiva hitchcockiana que me fez, inconscientemente, parar de borrifar e começar a dar passos cautelosos para trás. O Rafael, com nome de anjo mas olhos de demónio, virou-se então totalmente para mim e começou a andar, com passos de avestruz, na minha direcção.

Foi mais ou menos nesta altura que comecei aos gritos. Primeiro com voz sumida, mas quando percebi que aqueles passos eram só para tomar balanço e voar direito a mim, comecei a berrar de forma completamente descontrolada, enquanto corria – pela vida! Na única vez que olhei para trás, já o bicho estava no ar, de asas bem abertas (recordo: até 120 cm de envergadura de asas!), na direcção da minha cabeça! O Tiago, que assistiu a tudo pela janela da cozinha e cedo percebeu que os meus gritos não denunciavam apenas uma gafanhoto gigante, e me abriu a porta no último momento, antes de ser furiosamente arrebatada por um corvo em fúria (posso ou não estar a exagerar nesta parte), garantiu-me que tudo na postura do bicho prenunciava um ataque iminente. Também me disse, sem nunca tirar o ar de gozo na cara (…), que não se percebia bem, pelo meu gesticular que acompanhava os gritos, se o que eu queria era proteger a cabeça, se voar eu também dali para fora.

Agora que tudo passou, posso dizer que já dei umas boas gargalhadas à conta do incidente, mas na altura tive mais medo do que quando saltei para ver o tubarão-baleia. E tudo só porque levou com uns borrifos de água! Bicho mimado!

É claro que uma coisa destas fez com que passasse a noite obcecada a procurar informações sobre corvos e ataques de corvos, que parecem ser bem frequentes em países longínquos como a Austrália e o Canadá. Mas o que encontrei a seguir não me deixou nada descansada:

1 – Os corvos ficam ofendidos e guardam rancor. E tudo só porque levou com uns borrifos de água??
2 – Os corvos têm memória e não esquecem a cara de quem os ofendeu. Mau…
3 – Nem com máscara! Está cada vez melhor…
4 – Os corvos conspiram uns com os outros e podem trazer amigos para se vingarem. Vamos mudar de casa!
5 – Entre as coisas que vou ter de passar a fazer para me proteger do corvo que se vai lembrar de mim e da minha cara (mesmo com máscara) durante os próximos cinco anos está andar no quintal de guarda-chuva e ter sempre amendoins no bolso.

 

Tenho medo.

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3 comentários

  1. Ahahahah. Já ri bastante! Mas acrescento que tenho muito medo de aves (galinhas incluídas) e que já corri à frente de algumas… E nunca imaginei me cruzar com um corvo! Também tenho medo. Aqui em casa, temos por vezes uma investida de um pavão! (bicho horroroso na minha maneira de ver!) mas já lhe mandei com umas pedras acima para o afastar…. sujam e estragam tudo. O entendal da roupa já foi ao chão algumas vezes! Força, coragem, estamos contigo…

  2. Credo!!!
    Eu, mesmo tendo visto (às escondidas) o filme do Hitchcock numa idade impressionável, nunca achei que alguma vez teria tinha medo de pássaros, até ter um encontro com umas gaivotas muito ameaçadoras… Que encontro o teu. E esses factos sobre os corvos…

  3. Pois é… o Corvo continua a andar por ali (hoje bicava furiosamente o boneco do cão da vizinha, cão este que ele também já atacou!) e eu agora sempre que saio de casa, tenho de fazer vistoria aos telhados e olhar para todo o lado. Não me faltava mais nada :/

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