Leituras de 2017 #7

21. Norma, de Sofi Oksanen

Este livro tem tudo para correr bem. Quando digo tudo, refiro-me à história, passada no coração de Helsínquia, que mistura gangsters, tráfico de mulheres e adopções ilegais com elementos do realismo fantástico, e à protagonista (aqui entra o realismo fantástico) que foi dotada à nascença com um cabelo mágico, que se estica, encaracola ou eriça ao sabor das emoções e que cresce a uma velocidade estonteante. Parece um livro especial, fora do comum e com tudo para correr bem, certo? Só que não corre bem. A escrita deste livro é simplesmente confusa. A autora mete os pés pelas mãos e é preciso voltar atrás várias vezes para perceber a passagem entre cenas ou quem é que afinal está a fazer o quê, o que me irritou sobremaneira. Achei que havia muito potencial nesta história, mas as minhas expectativas saíram completamente goradas.

22. Cinza e Poeira, de Yrsa Sigurdardóttir

Este é o terceiro livro que leio de Yrsa Sigurdardóttir, mas foi o primeiro que ela escreveu (os outros dois são O Silêncio do Mar e Lembro-me de ti) e confirmo que gosto do estilo desta escritora. Não esperem, contudo, um livro de suspense de tirar o sono ao estilo dos thrillers americanos. Não, Ysra Sigurdadóttir não escreve policiais padrão. São policiais, sim, porque se cometeu um crime e se procura um assassino, mas a protagonista da história é uma advogada que investiga os crimes apenas para salvar o couro dos seus clientes, dividida entre o trabalho e a vida familiar. O cenário é a maravilhosa Islândia, neste caso em concreto, a ilha Westman, a segunda maior ilha da Islândia, que, em 1973, foi devastada por uma grande erupção que causou a evacuação de todos os habitantes e a destruição de muitas casas. Rolam cabeças por campos de lava, mas não se nos eriçam os pelos. É um livro fácil e leve, que recomendo para quando andarem de cabeça cheia.

23. A Gorda, de Isabela Figueiredo

Aqui está um livro fenomenal. Foi-me recomendado por uma amiga que, não estando propriamente a adorar, achou que eu iria gostar do livro. Por acaso, eu comprara-o na Feira do Livro de Verão de Sesimbra, porque já ouvira falar dele, mas ainda estava em lista de espera.

Adorei este livro, dou nota máxima. Apesar de o tema não ser fácil (uma mulher expatriada de Moçambique aos 12 anos que enfrenta a vida num internato e se sente sempre desajustada no seu corpo enorme, a sua relação com os pais, com os namorados), a escrita é perfeita, com um domínio invejável do português (que não se vê em todos os autores que por aí andam), crua, sem medo de chamar as coisas pelos nomes e, apesar de ser altamente autobiográfico (será impressão minha?), não cai no erro da lamechice. Ainda assim, é despretensiosa. A forma como separa os acontecimentos por capítulos relacionados com divisões da casa também está muito bem conseguida.

Se só puderem ler um livro para o ano (depois de lerem a saga da Amiga Genial da Elena Ferrante, está claro!), leiam este. Se eu não vos convencer, talvez a crítica da Sábado o faça. E, entretanto, podem ir acompanhado a escritora no seu blog.

 

Livros lidos entre Setembro e Novembro.

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