Compostagem para totós

Já há muito tempo que queria experimentar fazer compostagem. Para quem está a ouvir falar sobre isto pela primeira vez, compostagem é, basicamente, o processo de transformar resíduos orgânicos em terra, o chamado composto, através de um processo totalmente natural. Este composto pode ser utilizado como fertilizante natural para enriquecer a terra do jardim, da horta, dos vasos na varanda. Para quem tem meia dúzia de vasos, como eu, as vantagens de fazer compostagem são bastante reduzidas, visto não precisar assim tanto de renovar os meus stocks de terra. Mas a compostagem é, essencialmente, uma forma de reduzir o lixo que consumimos e que mandamos para o aterro. Mas estamos a falar de resíduos orgânicos e biodegradáveis, certo? Então, qual é o mal de os enviar para o aterro? Se são biodegradáveis, irão biodegradar-se rapidamente, certo? Errado. Reparem, os aterros estão superlotados e a separação do lixo nem sempre funciona como se pensa. No meio de metal, plástico, e outros materiais sintéticos, os resíduos orgânicos dificilmente encontram o ambiente propício para se decomporem. É claro que os benefícios reais da compostagem seriam mais visíveis se fosse feita ao nível das autarquias, se se fizesse uma recolha selectiva dos resíduos orgânicos produzidos em restaurantes e nas grandes superfícies, os quais depois seriam transportados para grandes centros de compostagem e aí transformados em nova terra para usar em jardins e espaços públicos. Oh, mundo perfeito.

No meu caso, tendo em conta a dimensão da minha caixa de compostagem, o volume de resíduos orgânicos que salvo de enviar para os aterros é mínimo. Então porque o faço, se não retiro daí nenhuma vantagem pessoal? Pela mesma razão que me leva a usar o copo menstrual ou os discos de limpeza reutilizáveis ou a não comprar mais roupa feita em condições de trabalho deploráveis: simplesmente porque me preocupo com o ambiente e quero ter uma consciência ética tranquila. Se há algo que eu própria, sem depender da boa vontade ou colaboração de ninguém, posso fazer em prol do ambiente que não me prejudique demasiado o meu dia-a-dia, não me retire muito tempo nem seja demasiado incomodativo, então eu faço.

No entanto, a compostagem não depende exclusivamente de mim, e por isso é que o processo de tomada de decisão foi mais complexo do que simplesmente decidir “a partir de hoje faço compostagem”. Além disso, exige alguma preparação. É preciso ler sobre o assunto, saber o que se pode compostar e o que não se deve deitar na caixa de compostagem, caso contrário arriscamo-nos a causar maus cheiros e a atrair ratos para o nosso quintal. A questão estética teve algum peso no meu caso, porque partilho o espaço exterior com mais três famílias e teria de pedir autorização para colocar um mamarracho destes no espaço comum, coisa que não me apeteceu fazer. Logo, teria de ser um recipiente mais pequeno e discreto, dentro do meu espaço, quer no interior (varanda), quer num canteiro que faz parte da casa e tem vários metros de solo. A compostagem no interior, mesmo sendo na varanda, coloca outra questão: a compostagem requer que o compostor esteja em contacto com o solo, caso contrário não passa de um simples caixote do lixo onde não se processa nenhuma transformação. Como no interior não é possível haver contacto com o solo, a melhor forma de fazer compostagem em casa (sem contacto com o solo) é com minhocas (vermelhas da Califórnia), a chamada Vermicompostagem. A mim isto não me causa asco nenhum, mas a ideia não foi muito bem acolhida cá em casa…

E foi assim que, um dia, encontrei um simples recipiente de plástico que tinha na garagem, o lavei, fiz furos, coloquei as primeiras camadas de material para compostar e pousei em cima do solo, num canto do canteiro exterior que faz parte da casa. E foi tão estupidamente simples que tive vontade de dar estaladas a mim própria por só ter começado agora a fazer compostagem. É claro que ainda pode correr mal. É a primeira experiência e sou capaz de ter de fazer algumas alterações à minha caixa de compostagem, como por exemplo, fazer mais furos para assegurar um bom arejamento. Mas estou muito entusiasmada com o meu novo projecto e, de acordo com as minhas pesquisas, acho que estou a fazer tudo bem.

Resíduos orgânicos para deitar na caixa de compostagem: cascas de fruta, folhas de alface que não aproveitámos para a salada, sementes de papaia (não sei se abusei), saquetas e folhas de chá.

Farei outro post com dicas práticas (razão: não tenho fotos do processo e o post já vai longo). Até lá, deixo-vos aqui alguns links de blogs e vídeos com a informação que me foi muito útil:

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Outubro de mudança

Chegámos a uma altura em que já deixámos de ter poder de escolha sobre a quantidade de lixo que trazemos para casa. O lixo é-nos imposto, quer queiramos quer não, como complemento indissociável dos produtos que compramos. Reduzir o lixo que produzimos é uma autêntica luta diária que exige preparação e antecipação, paciência e diplomacia. Sinto como se me tivesse de preparar para uma guerra e munir-me de capacete, colete à prova de balas e metralhadora antes de sair e enfrentar o mundo do comércio e os vendedores que nos impingem e os compradores que aceitam sem pensar os produtos descartáveis.

Se levo as minhas próprias embalagens para a casa da comida pronta, o senhor quase que se zanga comigo. “Mas o que é isto, menina? Nós temos embalagens nossas!” Respondo que bem sei, senhor, e são embalagens muito resistentes, mas estou a tentar produzir menos lixo, sabe, ao que ele responde “Pff, se é assim que quer!”, como se me estivesse a fazer mal a mim própria, uma tonta que não sabe o que faz.

Se no talho tento recusar o segundo saco de plástico (a carne é colocada num saco de plástico que é colocado dentro de outro saco de plástico), a senhora responde com um tom maternal “Deixe estar menina, mais saco menos saco…”, como se me estivesse a fazer um favor, como se fosse um acto generoso da sua parte dar-me mais outro saco, não vá eu sujar o banco do carro. Resisto a ripostar. A carne já está dentro do saco, que já está dentro de outro saco, e se a obrigar a retirar o segundo saco, o mais certo é ir parar ao lixo, sem ser usado, porque já esteve em contacto com a carne e a Asae é que manda.

Sem falar noutro tipo de lixo que nos é impingido, como é o caso dos 198 canais de televisão, da fibra óptica, dos 3 gigas e das operadoras a lutar entre si por mais clientes. Optámos recentemente por um pacote com menos canais, mas com mais dados no telemóvel e foi uma complicação explicar ao rapaz porque é que 33 canais até já são demais para quem praticamente não liga a televisão. Mas e as meninas? Não acha que elas devem ver mais do que apenas dois canais infantis? Pois… não. É que nós preferimos que elas brinquem, sabe. E quase me desfaço em desculpas.

É cansativo.

Ainda assim, acho que vou insistir nisto. Vem aí Outubro, o mês sem compras de produtos novos, e se noutros anos só me lembrava a meio, este ano ainda vou a tempo de decidir não comprar nada novo durante 30 dias. Não é muito. Aliás, não é nada. Desde que, em Abril, decidi que ia passar a ter mais atenção à roupa que compro (onde e em que condições foi feita, preferindo produção nacional, local e até caseira), que me tenho portado muito bem. Tive um ou outro deslize, confesso, mas posso dizer que comprei apenas 5 peças de roupa nova, sendo apenas uma de produção fora de Portugal. Valeu-me o guarda-roupa que herdei da minha avó e que fui arranjando ou mandando arranjar, valendo-me várias saias e vestidos para o Verão que passou. Fora isso, não tenho por hábito comprar bijuteria, nem acessórios (comprei uma mala que mandei fazer com um tecido meu, portanto sei bem quem a fez e paguei o preço justo por ela), nem sapatos e as minhas compras por impulso também são cada vez menos. A minha única perdição são os livros, mas acho que tenho livros novos que cheguem durante um mês. Portanto, não, não vou precisar de comprar nada novo para mim. Excluem-se os produtos de higiene e limpeza da casa, alimentação e prendas, no caso de me ser mesmo impossível fazê-las eu. Exclui-se também o resto do agregado familiar. Essa é outra luta que espero travar dando o exemplo.

Posto isto, Outubro é capaz de ser um bom mês de teste para implementar algumas mudanças. Será que sei no que me vou meter?

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