Islândia

Subi e desci montanhas, dormi em tendas com vista para a neve, percorri um deserto de lava, atravessei a pé rios de água gélida e senti a força das águas, passei por detrás de cascatas e adormeci ao som de quedas de água, passeei de barco na lagoa dos glaciares, pisei várias praias de areia preta, subi uma encosta íngreme só para ver papagaios-do-mar, e vi, também vi focas, ovelhas de pelo largo e os mais belos cavalos, com guedelhas dignas de estrelas de rock, subi ao topo de um vulcão, tomei banho em nascentes naturais de água quente, vi géiseres em erupção, comi sandes de lagosta e sopas dentro de grandes pães redondos, reencontrei a minha antiga professora de islandês, assisti à maratona de Reiquejavique e celebrei a Noite da Cultura da capital. Durante todo este tempo, andei sempre claramente mal agasalhada. O verão na Islândia pode ser pior do que o nosso inverno. Ainda assim, apesar do frio (e do campismo), foi uma das melhores viagens da minha vida. Não sei bem precisar de onde veio este fascínio pela Islândia, pela Escandinávia no geral. Mas é real e ficou mais forte. A Islândia, terra do fogo e do gelo, é um país de outro mundo, que nos deixa num estado de assombro constante. E de falência declarada.

Mas um dia, quando tiver mais dinheiro, vou levar lá as minhas filhas.

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Berlim: entre trabalho e prazer

Quem me conhece ou quem lê o blogue há algum tempo, sabe que adoro Berlim. Vivi lá mais de 4 anos e, apesar de já ter voltado para Portugal há mais de dez, para mim continua a ser a cidade. Gosto muito de Lisboa, e de Sesimbra, mesmo não sendo cidade, mas nenhum outro sítio me faz sentir-me tão bem, tão em casa, tão fascinada e atenta ao pormenor. De vez em quando vou lá, não só por ter lá amigos, mas porque simplesmente preciso de lá ir, seja para aplacar as saudades, seja para renovar as memórias, seja apenas para ir mantendo o meu alemão actualizado, que tanto preciso para o meu trabalho.

Por isso, foi com grande entusiasmo que aceitei uma proposta de ir a Berlim em trabalho, enquanto tradutora na Feira de Turismo de Berlim. Foi inesperado e aconteceu tudo muito depressa. Dividia-me entre a insegurança de achar que poderia não estar à altura da tarefa (afinal eu sou uma tradutora que se esconde atrás do ecrã, que tem tempo para pensar nas palavras, para rever o trabalho antes de apresentar o resultado final e não tenho o treino necessário para a interpretação) e a ambição de alargar as minhas competências, mas o trabalho acabou por não ser nenhum bicho de sete cabeças – apesar de continuar a achar que o meu lugar é mesmo nos bastidores, onde me sinto realmente bem – e os cinco dias passaram a correr.

Posso não ter aprendido muito em termos profissionais – não me parece que vá acrescentar “acompanhamento a feiras” aos serviços que ofereço -, mas aprendi muito em termos pessoais. Aprendi, por exemplo, a tirar o máximo partido de uma situação não ideal e a ver o lado positivo das coisas. Há algum tempo que andava a tentar pôr isso em prática, a ser grata pelo que tenho, e este foi o momento ideal para o fazer. O hotel não primava pelo conforto, mas era limpo e sossegado, o que me permitiu dormir 4 noites de um sono repousante como nem sempre se consegue quando se tem filhos. Isto das feiras não é mesmo a minha praia, mas permitiu-me entrar em contacto com outras culturas, conhecer pessoas novas, falar alemão, inglês e espanhol no mesmo dia e ainda me soube bem trocar a roupa do dia-a-dia por trajes mais formais.

De Berlim, em si, ficou-me pouco. Conseguia ter alguns momentos de lazer apenas à noite, mas só tive direito a duas noites para mim, que aproveitei para percorrer a minha memory lane, comprar uns souvenirs para as miúdas, literatura para mim (podia passar horas na Dussmann…) e ainda revisitar amigos. Nestes momentos, senti um misto de emoções. Por um lado, foi como se nunca me tivesse vindo embora, tal é o à vontade e a destreza com que ainda me movimento na cidade. Por outro lado, e por muito enquadrada que me sinta lá, percebi, como percebo sempre que lá vou, que o meu lugar já não é lá. É aqui, em Sesimbra, com o Tiago e as meninas, ao pé do mar, do sol e da família, dos amigos e das sardinhadas, da rotina que preenche a nossa vida calma, da minha horta e do chilrear dos pássaros. Nem tudo é perfeito, há muita coisa que eu gostaria de mudar. Mas ando a aprender a viver com o que tenho. E, vai parecer um cliché, mas nestes últimos dias aquilo que tenho pareceu-me simplesmente perfeito.

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Leva-me numa roadtrip pela Andaluzia

Aproveitámos a pausa do Carnaval para fugir da loucura carnavalesca de Sesimbra e ir dar uma volta ao país vizinho. Inicialmente, pensámos ir a Salamanca e passar na estância de esqui Bajar para as miúdas brincarem um pouco na neve. Mas as baixas temperaturas desencorajaram-nos. À última hora, alterámos a rota; seguiríamos para sul: Córdoba, Málaga e Sevilha.

Foram uns dias incríveis, cheios de sol e com direito a tirar o casaco durante as horas de maior calor. Depois do queixume inicial (ora estavam fartas de andar de carro, ora estavam fartas de andar, ora a comida não era do agrado, ora estavam cheias de fome, ora queriam beliche, ora não queriam beliche…), as lamúrias pararam como que por milagre e, quando chegámos a Sevilha, as miúdas já estavam completamente adaptadas (ou conformadas) ao nosso estilo de viagem.

Foram umas férias de que não nos vamos esquecer tão cedo. Felizmente, não por algum acontecimento mau e marcante, mas por ter corrido tudo tal como planeáramos e por termos sido sempre brindados com sol e calor.
Comemos uma tortilha de batata que mais parecia um bolo e serviram-nos torradas com a manteiga em forma de bola de gelado. Comemos uma paella que, não sendo a melhor que já comemos, naquele dia nos soube pela vida. No último dia, comemos uns churros molhados em chocolate quente que, para as mais pequenas,  entraram logo para o top das coisas de quem ais gostaram das férias. Passeámos pelas ruas do casco viejo, assistimos a espectáculos de sevilhanas de rua e a um cortejo de Carnaval. Fizemos piqueniques à beira de lagoas e em parques infantis desertos e percorremos Málaga de bicicleta e trotinete. Em Sevilha, andámos de barco e alugámos uma ciclotour no Parque Maria Luísa. Perseguimos bolas gigantes de sabão e comprámos azeitonas no mercado. Ficámos num bed&breakfast fantástico, cujos anfitriões, o Carlos e a Rosa, nos receberam como reis. A Rosa, tendo vivido em Lisboa e sentindo um grande carinho pelos portugueses, abraçava-nos quando chegávamos ao pequeno-almoço como se nos quisesse meter no coração e foi incrivelmente doce com as miúdas. Se houve alguma coisa que ficou por fazer nestas férias foi, talvez, explorar um pouco mais Málaga. Mas não faltarão, decerto, mais oportunidades.

Em Córdoba, na Ponte Romana
Vista para Málaga
Málaga sobre rodas
Uma tortilha por dia
Passeio de barco na Plaza de España
Uma perdição.
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Nós as duas em Berlim

Foi a primeira vez que viajei sozinha com uma das minhas filhas e deixei a outra com o pai. Normalmente, ou viajamos todos juntos ou viajamos a dois, eu e ele, porque precisamos, gostamos, queremos e temos, felizmente, avós com disponibilidade e vontade em ficar com elas. Mas este ano decidi ir viajar sozinha com a Inês. Desde a última vez que fui a Berlim que ela me andava a pedir que a levasse à Alemanha, mas optei por esperar que ela tivesse idade suficiente para se lembrar desta viagem para a poder levar a Berlim, a minha segunda cidade, aquele sítio onde ainda me sinto em casa, mesmo que já tenha mudado tanto.

Foi espectacular. Posso dizer que passei cinco dias sem ralhar, sem gritar, sem ameaçar, sem chantagear, sem pressas nem stresses (ok, aquela vez em que ela se sentiu mal na Legoland e tivemos de vir a correr para casa de táxi e ela vomitou dentro no carro foi um bocadinho stressante). Foram cinco dias perfeitos em que nós as duas andámos completamente sintonizadas, ela andava feliz da vida, super orgulhosa por ter tido o privilégio de viajar com a mamã e super contente por não ter de me partilhar com ninguém. Até acedeu a provar comida crudívora (eu sei, foi esticar a corda) e não fez cara feia ou cuspiu para o prato, como é costume! Provou um pouco de tudo, como eu lhe pedi, e depois disse muito educadamente: Mamã, não gosto lá muito. Posso comer um cachorro quente quando sairmos daqui? E jogas mais um Uno comigo?

E foi assim que, entre muitos jogos de Uno, contagens de paragens e estações de comboio e metro, caminhadas longas sem queixumes e muitas conversas sobre o muro, a guerra e um senhor mau chamado Hitler, passámos cinco dias fantástico em Berlim, só eu e ela, a minha primeira, a minha mais velha.

Enquanto não tenho tempo para escrever um post detalhado sobre o que fizemos com dicas para viajar com crianças (ahaha, sou uma expert, eu!), ficam aqui algumas das fotos dos momentos que marcaram a nossa viagem.

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Seis dias nos Açores

Estivemos seis dias nos Açores com os nossos amigos polacos com 4 filhos. Éramos, portanto, dez pessoas, sendo que seis eram crianças dos 2 aos 9 anos. E, apesar de parecer estranho, dado o número de crianças ser superior ao número de adultos, foi espectacular. Vimos muita coisa nova (nós já conhecíamos os Açores) e fizemos coisas fantásticas que incluíram comer cracas – uma espécie de rocha com coisas comestíveis lá dentro – tomar banhos de água quente no mar presos a uma corda em Ponta da Ferraria, estragar os fatos de banhos com a água sulfurosa do Parque Terra Nostra, ver o nosso cozido sair de debaixo da terra, nadar numa piscina natural que era, ao mesmo tempo, um aquário, trepar rochas vulcânicas, andar por “florestas encantadas” e ir desembocar em lagoas de água verde-esmeralda, saltar de uma prancha de 3 metros e sentir-me suspensa numa bolsa de ar para depois cair a pique e achar o máximo, ver como nascem e crescem os ananases dos Açores e ver golfinhos a nadar ao pé de nós. A dinâmica entre casais e crianças foi perfeita. As crianças não se deixaram intimidar pela barreira linguística e brincaram juntas numa língua inventada por elas que não era nem polaco, nem português, nem inglês, mas algo ali no meio, que nos dava vontade de rir, mas permitia-lhes entenderem-se na perfeição. Para as nossas foi também a primeira vez de avião (andar de avião aos dois meses e meio não conta) e foi bastante pacífico. Quando lhes perguntei, depois de chegarmos, do que mais tinham gostado, responderam-me “dos gelados”. Expliquei que gelados podem comê-los em qualquer lado, digam lá do que gostaram mais dos Açores. Sem hesitar, dizem que foi da piscina amarela. E dos gelados, insistem. A Alice, a sorrir, diz ainda que viu muitas girafas e eu pergunto-me: estivemos em universos paralelos ou ela já goza comigo?

Praia nos Mosteiros
Praia nos Mosteiros
Vista do Rei para as Sete Cidades
Perto da Vista do Rei
Furnas
Piscina Termal do Parque Terra Nostra
Parque Terra Nostra
Piscina oceânica da Caloura
Plantação de ananás
Vista para Vila Franca do Campo e o ilhéu
Avistamento de golfinhos, as baleias preferiram não se mostrar, para grande pena nossa…

As minhas outras vezes nos Açores reunidas aqui.

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