Substack

Afinal, decidi manter o perfil que criei no Substack quando ainda estava indecisa sobre o que fazer com este blogue, e repesquei o texto que escrevi em agosto. Podem lá ir espreitar e subscrever.

Ou não.

Não sei o que sairá dali, mas talvez saltite entre os dois sítios qual barata tonta. Nada de novo, portanto.

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Renovação automática

Recentemente, descobri o Substack. Apesar de não ter qualquer intenção de monetizar os meus conteúdos (só falar em conteúdos, no meu caso, dá-me vontade de rir), fiquei fascinada com o aspeto da coisa e com a infinidade de possibilidades que permite. Mas depois percebi que aquilo é, essencialmente, uma plataforma para envio de newsletters e que qualquer coisa que publicasse na página principal seria automaticamente enviada para o e-mail dos meus subscritores. Não sei se será bem assim, mas foi o que me pareceu.

Ora, isto, além de eu não ter subscritores e ter de os angariar (fazer publicidade nas redes, que é o mesmo que dizer «pedinchar que me sigam»), é algo que me faz confusão. Ter uma newsletter significa que tenho, numa base regular, informações a partilhar que considero serem úteis a alguém ou, por exemplo, à promoção do meu trabalho. Ademais, significa também que os meus subscritores recebem, na sua caixa de correio eletrónico, estas informações que eu quero que eles leiam, quando eu acho que as devem ler, sem lhes dar possibilidade de escolha do quê e de quando ler. (Certo, eles podem guardar para ler depois e isso tudo, mas foquemo-nos.) É claro que, para isso, tiveram de subscrever a newsletter e ninguém lhes apontou uma arma nem os obrigou a nada. Mas faz-me impressão que seja eu a enviar-lhes os meus últimos rabiscos e não eles — como eu acho que deveria ser, tratando-se de um blogue pessoal — a procurá-los por iniciativa própria, como quem folheia um jornal à procura de um determinado artigo ou vai a uma livraria à procura de um livro para ler nas férias. Foi também por esse motivo que apaguei a página de Facebook do blogue, porque me começou a fazer impressão a necessidade de avisar para que alguém me lesse, como se dissesse, Olhem, olhem, estou aqui, vão ler-me, vá lá.

Sei que na sociedade de consumo rápido em que vivemos atualmente é assim que funciona e que só os mais rápidos e digitalmente aptos é que são vistos, mas eu também já participei, não há tanto tempo assim, na blogosfera mais lenta, em que cada um lia e escrevia ao seu ritmo, só porque sim, sem necessidade de impingir nada a ninguém. Liberdade de informação e de partilha, é nisto em que acredito, mas que se transformou em negócio e corrida às visualizações. Talvez um dia venha a mudar de ideias, talvez venha a precisar de ter uma newsletter para fins profissionais, já que parece que agora toda a gente tem uma (e um podcast, agora toda a gente tem um podcast!), mas por enquanto podem chamar-me antiga, obsoleta, fora de moda, infoexcluída, amargurada. Estou-me nas tintas.

Tanto que o domínio renovou de forma automática este sábado e, se dúvidas ainda houvesse de que manteria este estaminé de onde vos escrevo, dissiparam-se logo. Ficarei aqui por, pelo menos, mais dois anos, que é o período em que o domínio ainda é meu. Talvez o nome mude, talvez o visual seja renovado, mas o formato será o mesmo, inconstante, sem leitores, mas desinteressado e autêntico. Esta sou eu, não me imponho a ninguém. Já bastam os coitados que têm de me aturar diariamente, em carne e osso. Não desejo a ninguém.
Aqui, uma foto do meu almoço de hoje, salada de camarão com coisas. Porque se é para continuar a fazer à moda antiga, pois que assim seja.
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Dia das Bruxas

Tive direito a dormir uma hora a mais durante a noite, mas o dia está a ser tão longo que confesso que nem notei. Desde que acordei, já fiz panquecas, orientei dois banhos, trabalhei uma hora, pintei caras duas vezes, ajudei a decorar a casa para o Halloween, fiz salada russa, assei castanhas, torrei umas 14 torradas, joguei Monopólio, vi um filme de animação, vi um episódio da minha série enquanto elas jogavam computador e preparei uma caça do tesouro de doces dentro de casa, porque tem chovido o dia todo e não saímos à rua. Isto tudo e ainda nem sequer jantámos. Como já não sabia o que fazer comigo, fui buscar o Papa Figos de ontem e vim inscrever-me no NaNoWriMo enquanto a lasanha está no forno (das pré-feitas, que não sou assim tão prendada).

Sou capaz de vir aqui menos vezes durante o mês de novembro, ou talvez não, porque gostei da experiência de vir aqui todos os dias escrever qualquer coisa e, apesar de ainda não se ter tornado um hábito, também não o senti como obrigação, por isso é possível que continue. Mas é melhor não fazer promessas.

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Diálogos

perguntar, questionar, inquirir, indagar, responder, ripostar, retorquir, replica, dizer, afirmar, declarar, exclamar, anunciar, informar, consentir, anuir; continuar, prosseguir, acrescentar, concluir, rematar, sussurrar, murmurar, resmungar, resmonear, gritar, clamar, berrar, bradar, estrondear, vociferar, silvar, rosnar, rugir, uivar, explicar, esclarecer, cumprimentar, saudar, repreender, criticar, censurar, ralhar, acusar, recriminar, advertir – pode ser tanta a riqueza contida dentro de um bom diálogo e, no entanto, ele há com cada escritor preguiçoso…

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Se era para isto, mais valia ficares pelos post-its

Caderno que o Tiago me trouxe do Ártico.

Não sei porque escrevo, se é que se pode chamar escrever ao que faço. Já houve uma altura em que a escrita era uma parte indissociável dos meus dias; assim como comer, ou dormir, eu tinha necessidade de escrever. Enchia cadernos, uns atrás dos outros, com a descrição dos meus dias, pensamentos, contos e estórias que nunca cheguei a acabar. Encontrei-os no outro dia, em casa dos meus pais, quando procurava outra coisa qualquer. É sempre às cegas, quando menos esperamos, que encontramos as coisas que perdemos e as que julgávamos não precisar de encontrar. Sentada em cima da cama que já foi minha, reli alguns contos na diagonal, à pressa, com medo de ser surpreendida por uma das minhas filhas que viesse inquirir por que razão demorava a mãe e tivesse de lhes explicar, e, no pior cenário, ler (deus me acuda!), o que tanto a mãe escrevia quando era mais nova. Outros, incluindo os cadernos-diários, que me pareceram dignos de leitura atenta, levei-os comigo para casa. Foi inevitável não revirar os olhos perante a inexperiência e infantilidade em alguns rascunhos. Outros não estarão maus, mas é gritante a influência de autores que estaria a ler no momento. Tive sempre alguma tendência para absorver os modos dos outros, como se neles procurasse a minha voz, como se não pudesse ser eu mais do que uma amálgama daquilo que há nos outros.

Há pouco tempo, e não pensem que exagero quando me refiro ao curto espaço temporal que separa estes dois acontecimentos, comecei a sentir uma grande vontade de escrever, de me rodear de cadernos sobre tudo e mais alguma coisa como fazia quando vivia sozinha, quando os meus dias ainda tinham espaços em branco que podiam ser preenchidos com exercícios criativos dos mais variados graus de futilidade. Em contrapartida, hoje em dia, que já não vivo sozinha, todos os minutos contam – e são contados e preenchidos com tarefas úteis e necessárias para garantir o bom desempenho nas diversas áreas em que me movo. Em relação directa com isto, a escrita é, claro está, relegada para último plano. A última entrada do meu caderno-diário data de julho e quando não me quero esquecer de alguma citação que li num livro, em vez de a anotar, tiro uma foto com o telemóvel, acreditando que não vai ficar esquecida no meio de dezenas de fotos de gatos, comida e crianças. O meu blog, que não sei por quem é lido, pouco alento me dá. Há uns meses percebi que o que me dava mais jeito (e sentido) era enchê-lo com imagens e frases curtas para tentar mater um fio condutor sem perder muito do meu precioso tempo. Na minha cabeça, continuam a rodar sempre as mesmas histórias, mas como nunca lhes encontro um fim, também não lhes dou forma no papel. E assim vão passando os dias, sem pouco ou nada escrever.

Posto isso, não sei porque me inscrevi num curto de escrita de romance com um dos meus autores portugueses preferidos, não sei o que vou dizer na descrição de apresentação (Olá, eu sou a M. e enganei-me na sala?), nem muito menos sei o que raio vou eu escrever, ou – talvez mais pertinente – como vou eu arranjar tempo para escrever. Só sei que vou, porque já paguei e não sou pessoa para me acobardar ao último minuto. Eu saltei para o mar para ver o tubarão-baleia, caramba. Pior do que isso não deve ser.

Perante tudo o que não sei que vou dizer ou escrever, há algumas certezas que tenho. Como por exemplo:

Coisas que sei que não vou dizer:

– Ups, enganei-me na sala…

– Não sei bem como vim aqui parar…

– “Isto não está lá muito bom” (antes de ler seja o que for que escrever – só se me obrigarem, claro está).

– Gosto tanto dos seus livros, dá-me um autógrafo?

Coisas que sei que vou dizer:

– Olá, eu sou a M… Er… Não, está certo. O nome está certo, não falta nenhum “c”.

Porque há histórias cujo início já foi escrito há muito tempo.

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