Underwater love

Voltei hoje à natação, depois de quase três semanas sem ir. Não fui, porque me faltava o ar, e dentro de água é pior. Ou assim me diziam. Ouvi de várias pessoas: se tens ansiedade é melhor não ires para a água. O curioso é que, antes de ter deixado de ir, lembro-me de ter comentado que a natação me fazia bem para gerir o stress. Aquele inspira, expira ritmado, braçada, braçada, braçada, inspira, expira, braçada, braçada, braçada, inspira, expira ajudava-me a centrar, a esvaziar a cabeça de pensamentos, a focar-me naquilo. No entanto, houve uma altura em que me apercebi de que tinha medo de não conseguir tirar a cabeça fora de água a tempo. Ainda antes de saber que isto tinha um nome, assumi que era só mais um dos meus medos parvos. Olha agora para o que me havia de dar… Estou a nadar, numa piscina, e entro a pânico com medo de não conseguir virar a cabeça para respirar… Até que um dia acordei a meio da noite, na minha cama, sem conseguir respirar. E, bom, não tinha a cabeça debaixo de água.

Quando a coisa piorou fora de água, deixei de querer meter-me dentro de água. Comprei um fato de banho novo e uma touca a condizer e tudo, para me motivar, mas precisei do meu tempo.

Hoje, fui. Ponderei bastante tempo se haveria de explicar à professora o que se andava a passar comigo, para ela não me pôr a fazer aquelas respirações malucas que me fariam voltar a querer deixar de ir. Tive pudor de expor a minha vulnerabilidade a uma pessoa que mal conheço, medo que os colegas me ouvissem, que tivessem pena de mim, sei lá. Mas também pensei que, se nunca lhe dissesse, ela não me poderia ajudar a, literalmente, recuperar o fôlego. E, por isso, disse-lhe: não tenho vindo, porque tive uma grande crise de ansiedade, falta-me o ar e na piscina sinto que piora. E, pronto, não custou nada (bom, só um bocadinho), ela não fez perguntas a que eu não quisesse responder, adaptou o ritmo das respirações só para mim e ficou de pré-aviso para o caso de me dar a solipampa na parte sem pé.

Foi como se voltasse a aprender a andar depois de uma operação aos pés, devagarinho, piscina a piscina, pára para respirar e recomeça de novo. Mas a água estava quentinha, o meu fato de banho novo é confortável (já a touca…) e correu bem. Saí de lá triunfante como se tivesse conquistado o mundo.

Estou a melhorar. E adoro nadar. Era só o que me faltava ganhar medo à água.

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