Ano novo com velhas angústias

Substituíram as lâmpadas dos postes de iluminação lá da rua. Agora, as lâmpadas LED refletem uma sombra rendilhada nas paredes das casas. É quase poético, não fosse eu ficar sempre parada a olhar para elas, na vã esperança de ver a gata vir lá de onde desapareceu.

O balde do lixo da cozinha, cuja tampa não fecha bem, tem feito uns barulhos estranhos ao fechar, que se parecem ao barulho que fazia a portinhola da gata a abrir e a fechar. Tenho uns quantos sobressaltos por dia.

Ainda não arrumei as suas coisas, o arranhador, o banquinho de onde vigiava a rua, o comedouro. Mas já não encho o comedouro todas as noites, para o caso de chegar a casa faminta. Há outro gato que descobriu como entrar pela portinhola para lhe comer a ração. Não preciso de mais falsas esperanças de manhã, quando chego à cozinha, e vejo o comedouro vazio, mas nem sinal dela. E o gato, esse, tem quem cuide dele.

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