Balanço

À  medida que o ano se aproxima do fim, não consigo evitar sentir a ameaça de uma nuvem escura que avança na minha direção. É curioso, porque não me considero uma pessoa pessimista, mas a vida, noutros anos, já me ensinou que não pode haver dois anos bons seguidos. E eu já tive dois anos bons seguidos. 2022 e 2023 foram anos do caraças, cada um melhor do que o outro, por isso estou ciente de que é melhor preparar-me e apertar o cinto, porque não pode ser bom para sempre. Talvez a minha expectativa esteja também a ser ensombrada por alguns acontecimentos recentes no meu círculo de amizades que me relembraram que a vida pode mudar de um dia para o outro (parece que nada aprendemos com a pandemia e que continuamos, quais néscios, a ter de ser constantemente relembrados do óbvio), que um dia podemos acordar e perceber que andamos a navegar na direção errada, que afinal andamos a dar importância às coisas erradas e que o que mais importa é estar vivo e com saúde.

Ter saúde. Quando era miúda e ouvia os adultos dizer que ter saúde era o mais importante, ria-me e pensava para com os meus botões que era conversa de velho, de gente que já pouco tem para dar. Hoje, percebo que a saúde é o bem mais precioso que temos, por ser tão fácil perdê-la, ou nunca a ter, umas vezes por culpa dos excessos, outras pela injusta aleatoriedade a que estamos todos expostos desde que nascemos.

Apesar desta certeza que cresce no meu íntimo, não resisto a fazer planos, a continuar o caminho de expansão pessoal que comecei a trilhar há dois anos. Na minha agenda profissional, já tenho livros até junho, contratos de tradução assinados e projetos de mentoria e networking com data marcada. O meu trabalho deixou de ser tão solitário e eu comecei a gostar de sair do meu buraco. Percebi que talvez seja possível viver da tradução literária, que traduzir livros é aquilo que gosto mesmo de fazer, que me preenche e estimula, e que sou capaz, não obstante as vozes interiores que minam a minha confiança. A nível pessoal, quero continuar as minhas atividades aquáticas, o mergulho, a natação, o standup paddle. Quero começar a nadar no mar, que foi a única coisa que não consegui concretizar este ano, quero nadar 10 km por mês. Quero repetir os retiros que fiz o ano passado, o breathwork, o olhar bem no fundo de mim mesma, o abrir as portas da consciência e renovar a minha visão de mim e do que me rodeia. Quero continuar a crescer, a fazer coisas difíceis, a aceitar as opiniões diferentes, a aceitar-me como sou, mas sem que isso sirva de desculpa para mudar.

Parece muita coisa, mas não é. Só é preciso ter vontade. E saúde. Haja saúde, e tudo se faz.

Bom ano para ti também, com saúde.

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