Privilégio

Hokkaido no forno

O ano passado, a vizinha do talhão da frente deu-me as sementes, em Março pu-las na terra, em Julho colhi e comi a mais bela Hokkaido no forno, temperada com azeite e orégãos. É este privilégio que me vale quando penso em entregar a horta. Não sei quanto tempo vou conseguir mantê-la sozinha, mas há coisas de que não consigo (ainda) abdicar.

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Autobiografia

Há muito tempo que o lançamento de um livro não me deixava tão expectante, curiosa, ansiosa. Gosto de Peixoto, adoro Saramago e O Ano da Morte de Ricardo Reis é uns dos meus livros preferidos de sempre. Juntar isto tudo numa obra só parece-me um toque de mestre.

Quero ir ao lançamento e não quero esperar que acabe o meu #anosemcomprarlivros para o poder ler. Este meu desafio literário já me trouxe muitas coisas boas: almoços e pequenos-almoços literários, autores que desconhecia, obras que nunca iria ler por iniciativa própria e que foram uma agradável surpresa (houve uma ou outra excepção), mas há outros departamentos da minha vida que exigem rigidez e intransigência. A leitura é um prazer, refúgio e salvação e não há limites para isto.

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Voltas da vida

Não gosta de confusões. Se temos a casa cheia de amigos, é frequente ir encontrá-la no quarto, sozinha, a fazer recortes ou a folhear um livro. Também não gosta que estranhos se metam com ela na rua. Eu acho (mas o pai não) que é avessa a mudanças, mas quando se ambienta é a palhaça de serviço. É extremamente sensível se é chamada a atenção ou se é o centro das atenções num ambiente menos conhecido e foi esta sensibilidade, a par de outras coisas, naturalmente, que nos fez decidir voltar a inscrevê-la no pré-escolar, na escola da irmã, apesar de fazer 6 anos ainda este ano. Até ontem, eu ainda não tinha percebido se ela sabia que não ia para o primeiro ano, ao contrário dos seus colegas, e, sabendo, se estava confortável com isso. Ontem calhou em conversa. Quase sustive a respiração enquanto deixei que o pai tomasse as rédeas à conversa e respirei fundo quando ela disse, com o ar mais condescendente do mundo, que sabe que não vai para a escola-escola, que vai só para a escola dos trabalhos e da brincadeira, mas sobretudo da brincadeira e que brincar mais um ano é mesmo o que ela quer.

Hoje, saiu a lista dos pedidos para novas inscrições. Não é ainda a lista dos pedidos aceites, mas frequentando a irmã a mesma escola, não me parece que vá haver problema. Seguir-se-á uma nova etapa das nossas vidas.

(Entretanto, quando voltou das férias do Algarve com os avós, disse-me que tinha tido saudades minhas, mas do que tinha mesmo mesmo saudades era da sua casa-de-banho. Bom, acho que podia ser pior.)

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O verdadeiro valor da roupa

É inevitável não pensar no documentário True Cost quando nos pomos a fazer contas ao valor da roupa feita à mão, por nós, versus a roupa de compra.
Este sábado, terminei a réplica de uma saia que vi em Berlim, que adorei, mas achei demasiado cara. Encontrei a referência do preço e posso confirmar que custava 125€. Na altura, pensei que, pelo preço, faria umas três saias iguais. Será?

Vamos a contas. Precisei de ajuda para o molde e comprei um curso de 12 horas na Maria Modista de Almada. Foi só mostrar a fotografia da saia, para me ajudarem a fazer o molde. Demorei aproximadamente 10 horas, o que ainda me permitiu iniciar um novo projecto. Valor de 4 aulas de 3 horas na MM: 100€. O tecido é da Feira dos Tecidos e deve ter sido entre 12 e 15€. De material, comprei ainda 8 botões, entretela e o cordão – talvez mais 5€, porque não guardei eu os recibos? Sem contar com a gasolina nem com as horas que não trabalhei (freelancer = não trabalha, não ganha), a saia ter-me-á ficado a 120€, valores arredondados. É claro que agora já tenho o molde e, teoricamente, seria capaz de fazer outra saia sozinha. Mas isto fez-me pensar no verdadeiro significado de “demasiado caro”. Terá sido, talvez, demasiado caro para o meu bolso. É claro que por uma costureira experiente, ou mesmo numa fábrica em que se pratiquem ordenados justos e condições favoráveis, uma saia destas pode ser feita em menos de metade do tempo que eu levei. Ainda assim, comparando com saias a 30€ nas lojas dos centros comerciais, há algo que está muito mal. São baratas, sim, mas a que custo? Quem as fez? Em que condições? Para durarem quanto tempo?

Decidi manter as aulas na MM. Não de forma intensiva, porque as miúdas já voltaram e a rotina regressou ao normal, mas uma vez por semana, para ir dando vazão aos projectos de gaveta e ter este tempinho para mim. Em Agosto, talvez leve lá a Inês, ver se se interessa pelas agulhas.

Se quiserem saber mais sobre slow fashion:
Forget fast fashion: slow style pioneers on the clothes they’ve worn for decades
Fashion Revolution Portugal
Movimento Slow fashion

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