Pensar na vida e na morte

Foi com muito pesar que li a notícia de que o Francisco Varatojo, o director do Instituto Macrobiótico de Portugal, tinha desaparecido no mar na passada quinta-feira, durante uma sessão de mergulho. Ainda há dois meses tinha conversado com ele e ele me tinha dito que vinha regularmente a Sesimbra fazer mergulho, que era um hobby que praticava há muitos anos e, por isso, tinha muita experiência. Algo terá corrido muito mal, porque o seu corpo foi encontrado, sem vida, na sexta-feira, ao final do dia. Tendo deixado 4 filhos, um instituto e imensos seguidores e admiradores para trás, custa-me principalmente saber que ficámos sem uma pessoa tão genuína e feliz como ele. Vi-o várias vezes no Instituto ao longo dos últimos 7 anos (a primeira vez que lá fui e que lhe fui apresentada), falei com ele poucas vezes, mas o suficiente para perceber que é daquelas pessoas que nos contagiam pela positiva. Ainda da última vez me dissera que eu tinha uma postura corporal fantástica (e agora vou ficar sem saber o que quis ele dizer com aquilo) e que gostaria de me voltar a ver em Setembro, depois de lhe ter feito muitas perguntas sobre o curso anual de Macrobiótica. Estive muito indecisa sobre se me havia de inscrever ou não (há alguns anos que penso nisto, porque a Macrobiótica não é só culinária, é todo um estilo de vida com imensas implicações em todas as vertentes da vida humana), li, reflecti, pedi opinião, mas acabei por não me inscrever (pesa o dinheiro, pesa o tempo, pesa o sacrifício familiar, pesa tudo quando temos dúvidas sobre se é mesmo isso que queremos). E agora, mesmo que um dia me queira inscrever, vai faltar a pedra basilar deste curso, a pessoa com mais sabedoria para nos ensinar sobre Macrobiótica.

Talvez me tenha custado mais porque o conheci, porque ainda há dois meses estivemos a conversar, porque tenho os seus livros e os livros da mulher e da filha, e admiro bastante o seu percurso. Custa sempre mais quando é com pessoas que conhecemos, é certo. Mas custou-me também muito porque este tipo de tragédia nos vem esfregar na cara a nossa pequenez. Num minuto estamos cá, no outro já não estamos. Nunca sabemos quando é o último dia da nossa vida. E se, na altura da nossa morte, nos apercebermos realmente de que a nossa hora chegou, qual vai ser o nosso último pensamento? Será que vamos olhar para trás e sentir que vivemos a vida que queríamos? Ou vamo-nos arrepender de cada momento que não vivemos o presente, que não agradecemos, que não dissemos às pessoas da nossa vida que as amamos? Com que imagem minha ficariam as minhas filhas de mim se eu morresse hoje? Da mãe fofinha ou da mãe que grita? E os meus amigos? Da mulher cheia de garra ou da mulher poço-de-lamentações? E o Tiago? Da mulher adorada ou da mulher amuada? Que pensamentos estes, mas talvez devêssemos, ao invés de lutar pela ascensão na carreira, lutar por conseguir uma boa inscrição na lápide. Significaria que tudo teria valido a pena.

 

(Isto deu-me que pensar, bolas.)

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2 comentários

  1. É verdade Monia , somos mesmo facilmente vencíveis qdo chega a hora….felizmente que a tendência qdo alguém parte é recordar o melhor de si… mas acredita que temos todos 2 lados , ou melhor 2 extremos que emergem dum lado ou de outro consoante o estímulos:)…és uma amiga cheia de garra e talentos e que por vezes ( raramente) te lamentas:)Be yourself, we like you😜

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