O meu ano vai bem

Estou sempre a encontrar pessoas conhecidas em Sesimbra. É impossível ir almoçar a qualquer lado com ideias de ler um livro enquanto almoço sossegada. Há sempre alguém que frequenta o mesmo restaurante que aparece a meio do almoço, que convido a sentar-se na minha mesa, com quem troco dois dedos de conversa. Nos dias em que, como hoje, até consigo ter um almoço sem companhia, encontro pelo caminho várias pessoas que conheço daqui e dali, algumas só de vista, outras com direito a cumprimento. Vinha a pensar nisto na vinda do almoço, quando passo por uma esplanada frequentada habitualmente por homens mais velhos com uma mão cheia de tempo e a outra mão vazia de pontas de cigarros, que se sentam virados para a estrada a discutir uns com os outros sem realmente se olharem. Chamou-me a atenção o facto de haver uma mesa cá fora posta para almoço, com dois homens de sobretudo e óculos de sol a regarem o peixe com azeite. Olhei para eles com mais atenção. Só podiam ser estrangeiros. Só os estrangeiros têm o prazer que falta aos portugueses de usarem as esplanadas em dias de sol de inverno, nós que temos sempre tanto frio num país tão quente. Estava eu nisto, dizia eu, quando, mesmo ao passar rente à mesa, um dos estrangeiros vira a cara e o reconheço. No balão por cima da minha cabeça surgiram rapidamente vários OMG! OMG!! OMG!!! assim que percebi que era o Tom Barman, o vocalista da banda belga dEUS que venerei no início da minha vida adulta. Quase que hesitei. Afinal fomos apresentados há uns dois anos, num final de tarde de verão em Sesimbra. Mas é claro que ele não se iria lembrar de mim, Hey, I’m the girl with the beautiful name, remember me?, tenho lá em casa um guardanapo de papel para provar que nos conhecemos. Duh. Talvez se das minhas resoluções para 2020 tivessem feito parte audácia, ousadia ou, simplesmente, esforços para perder a timidez, teria falado com ele. Como o ano já começou há oito dias e tudo permanece igual, passei por ele como se nada fosse e atravessei a estrada a fingir que não ia com o coração aos pulos.

O meu ano vai bem, e o vosso?

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