40

Faz hoje exactamente um mês que fiz 40 anos. Achei que a data merecia um post introspectivo sobre os novos 30; sobre o que conquistei até hoje ou o que ainda quero fazer; sobre as marcas da idade. Mas como não me chegou a inspiração, fui adiando até me esquecer. (Talvez seja o primeiro sinal de que chegámos aos 40, começarmo-nos a esquecer.) Mas entretanto, esta semana, ao ler O Caminho Imperfeito, do José Luís Peixoto, diz ele a certa altura: Tenho quarenta e dois anos. Quando olho para esta idade, parece-me imensa. E eu pensei, é isto, afinal era tão simples.

Tenho quarenta anos. Quando olho para esta idade, parece-me imensa. Cabe tanta coisa aqui, e ainda há espaço para tanto mais. Mentiria se dissesse que não me custa a crer que tenho quarenta. Custa-me a crer porque não o sinto. Quando era miúda achava que aos 40 já estaria acabada, finita, destinada a viver os dias sempre da mesma maneira, porque o que tinha conseguido até então seria definitivo; depois dos 40, achava eu, já não nos restava mais nada senão ficar a ver o mundo passar. Estava enganada, claro. Aos 40 sinto-me mais leve do que nunca; o peso do mundo foi deixando de estar sobre os meus ombros. É a ternura dos 40.

Quando olho para o espelho, vejo cada vez mais a minha mãe. Na boca, nos cantos dos olhos, nas expressões. Cresci a ouvir dizer que era a cara do meu pai, mas desde há uns anos que comecei a ver a minha mãe em mim. E isso tranquiliza-me. Um dia, as minhas filhas também se vão olhar ao espelho e ver-me nelas. Acho que, muito mais do que deixar o meu nome num livro ou ser conhecida por algum feito, é essa a marca que lhes vou deixar, a elas, ao mundo, no mundo.

Tenho 40 e uma vontade enorme de viver.

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