Bilhete

Quando vivia em Berlim, escrevia muito. Tinha um blogue, muito mais activo do que o actual, mas também escrevia em cadernos, os meus Cadernos de Berlim. Além disso, escrevia histórias e contos, praticamente todos inacabados. Quando regressei a Portugal, continuei a escrever, em blogues e cadernos, mas a inspiração e vontade foram-se desvanecendo com a maternidade. Cheguei a pensar que era Lisboa que não me estimulava ou que para escrever precisava de sofrer ou de me sentir sozinha.

Ontem, o Nick Cave, no fabuloso conversa-concerto que deu em Berlim, e a que eu assisti embevecida na quinta fila, falou disso, em resposta a uma pergunta sobre se para o processo criativo é necessário sofrer ou ter sofrido. “That’s insane”, respondeu, com aquele ar de quem nunca ouvira pergunta mais parva.

Fiquei a pensar nisso. Desde há alguns meses que recuperei a vontade de escrever, curiosamente não neste blogue, vontade esta que nada tem que ver com o meu nível de sofrimento ou solidão. Simplesmente, um dia, a vontade voltou a estar lá. Talvez seja mesmo assim tão simples.

Aproveito uma manhã chuvosa em Berlim, a minha última manhã da minha curta estadia, para ressuscitar este blogue dos mortos. Sem promessas, nem compromissos. Apenas para dizer que ainda aqui estou e que talvez volte. Berlim inspira-me, traz de volta aquela nostalgia boa para a escrita, faz-me pensar nos “e ses” da vida, faz-me estar desperta para as coisas pequenas. Mas, ei, eu já não vivo em Berlim. E não sei se a minha vida boa em Sesimbra é suficientemente boa para escrever sobre ela. É claro que se o Nick Cave lesse isto agora, dir-me-ia certamente, “Girl, that’s insane!”. E eu piscar-lhe-ia o olho e diria: “I know”.

Posts relacionados

1 comentário

  1. Olá Mónia,
    Escreva aqui quando lhe apetecer ^-^, eu vou passando para ver se há noticias. ^-^
    Bjs

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *