Acabei de ver o documentário 20 000 Days on Earth, sobre o Nick Cave. Emocionei-me, achei-o um registo lindíssimo, poético e assombroso de um dia na vida de um dos músicos que mais admiro, que passa o tempo a escrever, quando não está a cantar, a escrevinhar em cadernos com as pontas dobradas e folhas amarrotadas sobre tudo e mais alguma coisa, até sobre o tempo, hábito que adotou quando se mudou para Inglaterra. O tempo inclemente e o céu cinzento a que teve de se habituar levaram-no a manter os Weather Diaries, numa tentativa de controlar os seus sentimentos sobre o incontrolável, de não deixar que algo alheio à sua vontade ditasse a forma como se sentia.
Foi também o João Tordo que me disse, no curso de Escrita de Romance, quando declarei que só conseguia escrever sobre as coisas da minha vida, embora muito pouco romanceáveis, que, por vezes, as coisas mais belas são as mais corriqueiras, aquelas de todos os dias, contra as quais temos amiúde de lutar para não deixar que nos controlem.
Depois, Nick Cave diz ainda: I can control the weather with my moods. I just can’t control my moods.