Please, please, please

Sempre achei que, ao regressar do Boom, depois de 6 dias a ouvir música eletrónica de todos os lados, a toda a hora, ao ponto de nos entrar na cabeça, nos sonhos, na pele, sentisse ressaca de rock, mas a verdade é que, pelo segundo ano consecutivo, dou por mim a tentar prolongar a intensidade daqueles dias. Não é raro deter-me a ver as fotos e os vídeos, atrás daquele sentimento de nostalgia, ou a procurar músicas novas no Spotify que me façam fechar os olhos e pôr-me a dançar na cozinha. Às vezes, até descubro uma ou outra música que me transporta imediatamente para a Boomland. Como esta, dos Octa Push. Em repeat incessante desde ontem.

Continue Reading

Nick

Toda a entrevista é espectacular, profunda e inspiradora. Mas, de tudo, aquilo que mais me comoveu foi o que Nick Cave sobre o que levamos connosco quando morremos e o que largamos quando sobrevivemos aos nossos entes queridos (neste caso, o ensimesmamento que deixou de fazer sentido após a morte de Arthur).

O artigo do Expresso também está fofinho, mas não passa de um resumo mal amanhado do New York Times.

Continue Reading

Prepotência

Pinto o cabelo ao som de Lou Reed. Foi o que a Alexa me deu quando lhe pedi indie pop (há alguns conceitos que a Alexa confunde, mas desta vez não a corrigi). Depois, tocou The Smiths, e eu dancei muito, porque não me importa se o homem é ou não é racista (há grandes discussões nesta casa sobre isso), nunca fico indiferente às suas músicas.

No outro dia, chamaram-me prepotente. Que sou prepotente e preconceituosa com a música. Eu não tenho problemas nenhuns em admitir que sou muito preconceituosa com a música e os livros, é um facto que acho que há coisas com qualidade e coisas sem qualidade e que eu me encontro, felizmente, no lado certo da barricada. Mas ouvir os outros dizê-lo é esquisito. Fez-me pensar e concluir que… não me incomoda nada ser prepotente e preconceituosa com a cultura. Incomoda-me dormir mal, por exemplo. Incomoda-me que não possa comer o que quero sem que a barriga inche como um balão. Incomoda-me que chova no meu dia de anos. Agora não me incomoda gostar de ouvir boa música e ler bons livros. Ora essa. E agora a Alexa pôs The Passenger do Iggy Pop e eu tenho de ir para a casa de banho dançar.

Continue Reading

Escrever sobre o tempo

Acabei de ver o documentário 20 000 Days on Earth, sobre o Nick Cave. Emocionei-me, achei-o um registo lindíssimo, poético e assombroso de um dia na vida de um dos músicos que mais admiro, que passa o tempo a escrever, quando não está a cantar, a escrevinhar em cadernos com as pontas dobradas e folhas amarrotadas sobre tudo e mais alguma coisa, até sobre o tempo, hábito que adotou quando se mudou para Inglaterra. O tempo inclemente e o céu cinzento a que teve de se habituar levaram-no a manter os Weather Diaries, numa tentativa de controlar os seus sentimentos sobre o incontrolável, de não deixar que algo alheio à sua vontade ditasse a forma como se sentia.

When I would go into the office every day, I would document what was happening with the weather. I got really into it. I would carry a pad around with me. Any little change I would jot down. I started to see the weather in a different way. It became very exciting when there was really bad weather because I would get to write about it. It led to all sorts of things. But my one responsibility to the project was to document the weather every day. It was looking good, it was looking publishable: the world’s most tedious book.

Foi também o João Tordo que me disse, no curso de Escrita de Romance, quando declarei que só conseguia escrever sobre as coisas da minha vida, embora muito pouco romanceáveis, que, por vezes, as coisas mais belas são as mais corriqueiras, aquelas de todos os dias, contra as quais temos amiúde de lutar para não deixar que nos controlem.

Depois, Nick Cave diz ainda: I can control the weather with my moods. I just can’t control my moods.

Continue Reading