Diário do isolamento #1

Dia 1

As escolas só fecham a partir de segunda-feira, mas nós decidimos que as miúdas já haviam de ficar hoje em casa. Eu fui para o escritório, mas não me cruzo com ninguém. Trabalho sozinha, tenho casa de banho só para mim, entro e saio do carro sem contactar com ninguém. Vim almoçar a casa e, em vez de ver metade de um episódio da minha série actual enquanto almoço no sofá, como de costume, tive de almoçar à mesa em família, o que, para uma sexta-feira, foi um bocado esquisito. As miúdas reclamaram a minha presença, o que me recordou que isto de continuar a trabalhar com elas em casa é capaz de ter que se lhe diga.

Dia 2
Eu tinha uma lista mental das coisas para as quais nunca tenho tempo e que agora iam mesmo acontecer. A maior parte inclui a participação das miúdas, porque a) preciso de ocupar-lhes o tempo e b) isto não é nenhum hotel, e são coisas como lavar e aspirar o carro, pintar a estante da casa de banho, destralhar os brinquedos e ajudar-me a preparar a horta na varanda. Comecei pela pintura da estante porque sabia que se iam entusiasmar. Eu é que perdi o entusiasmo quando vi que aquilo estava a ficar tal mal pintado que ia precisar do dobro das demãos para disfarçar. Às tantas, chateei-me e mandei-as embora e fiquei a matutar nas minhas (in)capacidades pedagógicas.

Ao segundo dia, começámos a beber. Não como sintoma de desespero, bem pelo contrário, como uma espécie de celebração, porque:
1. Ainda estamos todos saudáveis.
2. Temos um quintal.
3. Estive a eliminar todos os eventos da minha agenda até ao fim do mês e passei um dia como há muito tempo queria: sem almoços marcados, sem compromissos, sem obrigações, sem nada.

As miúdas estão bem. Contentes por estar connosco, acho. Olívia, a gata, também. Até nos trouxe um lagarto e um rato de presente. Se isto continua assim, acho que vou precisar de mais vinho.

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