As coisas são como são

A Kika não voltou. Já passou mais de um mês e a nossa esperança foi desvanecendo. As miúdas não sabem se hão de falar nela no passado ou no presente, mas eu continuo a dizer que temos duas gatas, só que uma delas foi adoptada por outra família.

A Olívia, não obstante o stress dos primeiros dias – que fez com que o seu pelo ficasse a parecer palha de aço -, já parece ter esquecido que não foi sempre a única gata da casa. Ganhou o direito a dormir connosco, porque “coitadinha…”, e já se acalmou mais na caça às lagartixas e aos pássaros (felizmente!), pois a competição agora é menor.

Parecendo que não tem nada que ver, mas tem, as novas cortinas da Frida, que já não são bem novas, continuam a dar muita cor à desarrumação permanente do quarto das brincadeiras. Porque há coisas que temos simplesmente de aceitar que são como são.

Continue Reading

Que semanas

Foi difícil a minha semana passada, com coisas para resolver dentro e fora de mim. Aproveitei a ida das meninas para o Algarve, com os meus pais, para me libertar de compromissos e tirar tempo para mim. Fui ao ginásio, fui à horta, que é o único sítio na terra onde consigo não pensar em mais nada, e fui à Retrosaria, um dos sítios na terra aonde adoro voltar, aprender a remendar roupa. Foi uma sorte ter visto o post da Inês Nogueira no Instagram dois dias antes. Ela não sabe, mas a Inês foi uma das primeiras fazedoras que comecei a seguir, quando conheci o mundo das coisas feitas à mão.

Esta semana, o culminar de uma série de traduções complexas e monótonas obriga-me a, fora do escritório, desenvolver o meu lado criativo para não dar em doida. Reservei as tardes na Maria Modista de Almada para aprender a costurar uma saia que vi em Berlim e que era tão a minha cara, mas tão pouco amiga da minha carteira. Pelo preço, pensei, faço três saias destas. A ver vamos. Começo hoje.

Continue Reading

Pirilampos

 

Na era do instantâneo, ir ver pirilampos é a melhor forma de regressar ao “antigamente”. Além de o lusco-fusco ser a melhor hora para os avistar, é completamente inglório tentar tirar uma foto àquelas luzes minúsculas intermitentes. E depois, mesmo que teimem em tentar, vão desistir, porque ver um pirilampo é como entrar numa redoma onde o tempo passa a uma velocidade própria (ou pára?) e nada mais importa. Por isso, o melhor é mesmo guardar o telefone e simplesmente estar.

Na semana que passou, fomos vê-los três vezes com as miúdas, em safari autónomo, a um certo sítio que só nós é que sabemos. Desde que moramos aqui, este foi o primeiro ano em que nos lembrámos a tempo, por isso ainda conseguimos avistar uns quantos de cada vez. É assim bastante mágico, é como voltar a ser criança e acreditar que há uma espécie de mundo paralelo em curso enquanto seguimos um pirilampo com o olhar, com atenção plena. Acho que é esse o efeito da Natureza, quando a deixamos acontecer.

(gostava muito de conseguir atrair pirilampos para a horta, mas parece-me bastante impossível)

Continue Reading

A cena dos livros

Tinha estabelecido, no início do ano, o desafio de não comprar livros durante um ano. Fiz um post pomposo no Facebook a convidar amigos para me emprestarem livros e resisti heroicamente à tentação de comprar livros durante cinco meses inteiros (e, até à data, já li treze livros nestes moldes). Depois, veio a Feira do Livro. Fui lá duas vezes, o que parece uma estupidez, pensarão vocês (e terei pensado eu, a dada altura), visto que ir à Feira do Livro, gostando de ler, mas não poder comprar livros é o mesmo que ir a uma prova de vinhos grávida ou ir fazer um workshop de chocolate em dieta. Haveria muitos mais exemplos, mas já deu para perceber o grau de masoquismo. Eu achei que ia resistir, mas depois vi alguns livros que a biblioteca de Sesimbra não tem e que nunca há na livraria do Seixal e, pimbas, comprei-os. Ainda por cima, estavam a bom preço. Ainda me senti uma fraude durante uns segundos, mas depois pensei: ora, se eu morrer no final do ano, vou arrepender-me mais de me ter mantido fiel ao meu desafio ou de não ter lido os livros da minha lista? O desafio continua, mas não é preciso sermos rígidos. Além disso, depois de ler os meus livros novos, é provável que os doe à biblioteca. Acho que isto me escusa de penitência.

Sendo o último livro de carácter mais “técnico”, tinha-me autorizado a trazê-lo, por isso não conta…

 

Continue Reading

Craftivismo

Este fim-de-semana conheci a Ana. Já a conhecia de muitas mensagens trocadas virtualmente devido a alguns gostos e interesses comuns. Até já tínhamos feito a promessa de nos encontrarmos pessoalmente “um dia destes”, pois se até moramos perto…


A Ana é uma alma apaixonada e inquieta. Por ter em si a vontade de mudar o mundo, mas lhe faltar a ambição de o fazer activamente em público, e por ter talento e gosto pelos crafts, a Ana é uma craftivista. Não é ela que assim se auto-intitula (ou se calhar também), sou eu que o digo. Desconhecendo o termo até há bem pouco tempo, sinto muita curiosidade sobre esta forma de fazer ativismo: lenta e pacifista, para introvertidos, através do nosso tempo e jeito para as manualidades. Graças à Ana, descobri outras mulheres que fazem este tipo de activismo, seja para chamar a atenção de grandes corporações e se manifestarem contra as grandes injustiças sociais, seja apenas como meio de apelar à humanidade. Desconfio do impacto que a maior parte destas acções terá, se pouco, se nenhum. Mas numa era em que se acumulam as notícias pouco animadoras sobre o estado da nossa natureza e as pessoas à minha volta continuam, como há vinte anos, tão ou ainda menos empenhadas em mudar o agora para garantir o amanhã dos seus filhos (mudanças de paradigma e hábitos com vista a um futuro mais sustentável, leia-se), eu acho que tudo conta. E é assim que está a nascer o Movimento Somos Natureza. Ainda em estado embrionário, pretende-se levar mais pessoas a assinar a petição pelo reconhecimento dos Direitos da Natureza através de workshops e iniciativas locais – e não através da angariação de assinaturas na rua, porque se trata de uma cambada de introvertidos, claro está! No primeiro workshop, a Ana vai ensinar a bordar um painel deste tipo, fomentando-se a reciclagem de materiais. Utilizar o bordado não tanto como um fim, mas como um meio. A Ana até já esteve a ensinar-me a bordar e eu descobri um admirável novo mundo. Novidades para breve. Entretanto podem ir assinando a petição.

Continue Reading